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A coragem de mudar a educação: o legado de Maria Montessori

Michelle Braga
Oct 28, 2025

Em uma época em que educar significava controlar, Maria Montessori ousou seguir outro caminho. Questionou a obediência cega e acreditou que a criança nasce com a força para aprender sozinha, em liberdade. Sua coragem mudou a forma como o mundo entende a infância, e seu legado continua vivo em cada sala montessoriana.

Uma mulher à frente de seu tempo

Maria Montessori (1870–1952) foi uma médica e educadora italiana pioneira, conhecida por revolucionar a pedagogia ao colocar a criança no centro do processo educativo. Seu método enfatizava a autonomia, o aprendizado ativo e o respeito pelo desenvolvimento natural da criança — ideias consideradas radicais em sua época.

Mais do que criar um método, Montessori iniciou uma mudança de paradigma: a infância deixou de ser vista como uma fase de obediência e passou a ser compreendida como um período de autoconstrução e descoberta.

Mas antes de se tornar um nome mundialmente reconhecido, ela precisou desafiar as instituições mais poderosas de sua época — a Igreja, o Estado e o patriarcado.

A Itália do século XIX: um cenário de controle

Montessori nasceu em 31 de agosto de 1870, em Chiaravalle, Itália, num contexto em que a educação e a vida social eram profundamente marcadas por valores tradicionais. O país recém-unificado vivia sob forte influência da Igreja Católica e do Estado, que ditavam normas rígidas sobre moral, gênero e obediência.

Naquele tempo, as mulheres tinham destino pré-determinado: aprender boas maneiras, costura e religião — e pouco mais. Somente em 1877 meninas italianas foram autorizadas a frequentar a escola pública, e ainda assim sob o olhar vigilante do clero.

Maria Montessori recusou esse destino. Desde cedo, demonstrou curiosidade e persistência incomuns. Estudou engenharia, depois biologia e, por fim, conquistou o direito de cursar medicina, algo impensável para uma mulher naquela época. Em 1896, tornou-se uma das primeiras médicas formadas na Itália — um feito que por si só já representava uma ruptura com o sistema.

Da medicina à pedagogia: o nascimento de uma nova visão

Como médica, Montessori especializou-se em psiquiatria e começou a trabalhar com crianças com deficiências cognitivas. Em 1900, assumiu a co-direção da Escola Ortofrênica de Roma, dedicada a crianças consideradas “ineducáveis”.

Foi ali que ela aplicou métodos inspirados em Jean Itard e Édouard Séguin — dois educadores franceses que haviam desenvolvido técnicas sensoriais e motoras para crianças com deficiência. O resultado foi surpreendente: em apenas dois anos, muitas dessas crianças alcançaram desempenho equivalente ao de crianças “normais” nos exames nacionais italianos.

Para Montessori, esse sucesso revelou algo profundo. Se crianças marginalizadas podiam aprender tanto, o problema não estava nelas — estava no sistema tradicional, que sufocava o potencial das demais.

“Essas crianças foram ajudadas em seu desenvolvimento, enquanto as crianças normais foram impedidas de progredir”, refletiu mais tarde.

Essa percepção foi o ponto de virada. Ela decidiu dedicar sua vida a repensar completamente o modo de educar.

A Casa das Crianças: onde tudo começou

Em 1907, Maria Montessori fundou a primeira Casa dei Bambini (Casa das Crianças) em um bairro operário de Roma, San Lorenzo. A experiência, voltada para crianças de 3 a 6 anos, se tornaria o berço de uma das maiores revoluções pedagógicas do século XX.

Nada ali lembrava as escolas tradicionais.

As salas eram arejadas, luminosas e ordenadas, com móveis proporcionais ao tamanho das crianças, prateleiras baixas e materiais didáticos manipuláveis — todos dispostos de forma acessível, para que a criança pudesse escolher e explorar livremente.

Em vez de carteiras enfileiradas e silêncio imposto, havia movimento, curiosidade e concentração espontânea. As atividades envolviam tarefas práticas — vestir-se, regar plantas, arrumar flores, preparar o lanche — que, para Montessori, cultivavam autonomia, coordenação e autoestima.

O professor deixava de ser a autoridade que dita o conteúdo e passava a ser um guia e observador. O foco não era o ensino, mas o aprendizado ativo.

Liberdade com responsabilidade: a essência do método

O coração do método Montessori está na ideia de liberdade orientada.

Em um ambiente preparado com ordem e beleza, a criança pode mover-se, escolher suas atividades e aprender no seu próprio ritmo. Essa liberdade, no entanto, não é ausência de regras: ela é um exercício de autodisciplina.

Montessori acreditava que, quando uma criança se sente respeitada e tem um ambiente adequado, desenvolve naturalmente concentração, amor pelo trabalho e responsabilidade. Por isso, ela aboliu castigos e recompensas artificiais — substituindo o controle externo pela motivação intrínseca.

Essa ruptura foi radical. Ao rejeitar punições, prêmios e o medo do erro, Montessori rompeu com séculos de pedagogia moralizante baseada na culpa e na obediência religiosa. Em vez de doutrinar, ela propôs educar para a autonomia e para a paz interior.

O resultado era visível: as salas se tornavam ambientes calmos e produtivos, onde crianças pequenas se moviam com naturalidade e respeito mútuo.

Uma revolução silenciosa

Na virada do século XX, a ideia de uma escola centrada na criança era revolucionária.

Em 1909, Montessori publicou Il Metodo della Pedagogia Scientifica, obra que sistematizou sua abordagem e, três anos depois, foi traduzida para o inglês como The Montessori Method.

A partir daí, o mundo tomou conhecimento de sua pedagogia. Em poucos anos, escolas montessorianas surgiram em toda a Europa, nos Estados Unidos e na Ásia, atraindo educadores e cientistas interessados nos resultados consistentes: crianças mais autônomas, colaborativas e felizes.

A comunidade científica via no método uma combinação rara de observação empírica e respeito à natureza humana. O que Montessori havia iniciado em uma pequena sala de bairro ganhava agora dimensão internacional.

Enfrentando o sistema: Igreja, Estado e resistência

Com o crescimento do movimento montessoriano, o sistema tradicional começou a se sentir ameaçado.

Na Itália do início do século XX, a Igreja Católica e o Estado controlavam rigidamente a educação — e ambos tinham muito a perder com uma pedagogia que pregava liberdade, autoconfiança e pensamento crítico.

Intelectuais conservadores acusavam Montessori de conceder “liberdade demais” às crianças, enquanto líderes religiosos viam em sua proposta um perigo moral. O fato de sua metodologia dispensar prêmios e castigos, além de minimizar a figura da autoridade, colidia frontalmente com a visão de um ensino pautado no medo e na submissão.

Montessori defendia que a liberdade era uma condição biológica da vida, e que impedir o desenvolvimento autônomo das crianças era uma forma de violência simbólica.

Ela via na educação o caminho para a emancipação do ser humano, não para sua domesticação.

Esse posicionamento fez dela uma figura incômoda — mas também uma referência para quem buscava uma sociedade mais justa.

O embate com Mussolini: quando a liberdade não se curva

Nos anos 1920, com a ascensão de Benito Mussolini, Montessori enfrentou um novo tipo de poder.

O regime fascista, interessado em projetar uma imagem de modernidade, inicialmente se aproximou dela. Em 1924, Mussolini chegou a aceitar o título de presidente honorário da Sociedade Montessori. O governo apoiou cursos de formação e a criação de novas escolas — um momento de otimismo para Montessori, que acreditava poder expandir seu método a todas as crianças italianas.

Mas a harmonia durou pouco.

A filosofia montessoriana, centrada na liberdade individual e no pacifismo, chocava-se frontalmente com o nacionalismo autoritário de Mussolini, que pregava obediência absoluta ao Estado.

Quando, em 1931, o governo exigiu que todos os professores jurassem lealdade ao ditador, Montessori recusou-se a impor esse juramento às educadoras montessorianas. A resposta foi imediata: Mussolini ordenou o fechamento de todas as escolas Montessori na Itália.

Perseguida e vigiada, Maria partiu para o exílio.

Foi um novo ato de coragem — o mesmo espírito que guiara suas escolhas desde a juventude.

Perseguição e exílio: o método que sobreviveu à guerra

As ideias de Montessori incomodavam não apenas o fascismo italiano, mas também o nazismo alemão.

Em 1936, as escolas montessorianas foram proibidas na Alemanha, e seus livros chegaram a ser queimados em praças públicas. O método era visto como “subversivo” porque formava crianças livres, capazes de pensar por si mesmas — exatamente o oposto do que regimes totalitários desejavam.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Montessori viveu na Índia, onde também enfrentou restrições por ser italiana enquanto seu país estava em guerra contra o Reino Unido. Mesmo assim, continuou dando cursos e formando professores. Foi nesse período que ela ampliou seu trabalho para incluir uma educação pela paz, acreditando que a liberdade e o respeito aprendidos na infância eram o antídoto contra a violência no mundo.

“Estabelecer a paz é o trabalho da educação. Tudo o mais é apenas preparação para a guerra”, afirmou em uma de suas conferências.

Mesmo longe da Itália, nunca deixou de ensinar, escrever e inspirar. Sua voz tornou-se um símbolo da resistência intelectual e moral contra a opressão.

O legado que educou o mundo

Montessori faleceu em 1952, aos 81 anos, na Holanda — mas seu legado floresceu ainda mais após sua morte.

A Association Montessori Internationale (AMI), fundada por ela em 1929, segue até hoje como guardiã de sua pedagogia e formação de professores no mundo todo.

Seus princípios — autonomia, respeito, ambiente preparado e aprendizado ativo — transformaram a forma como o mundo entende a infância.

Aquilo que um dia foi visto como radical é hoje base de boas práticas pedagógicas:

  • Mobiliário adaptado ao tamanho das crianças;
  • Espaços que promovem autonomia e movimento;
  • Ênfase na aprendizagem por experimentação;
  • Rejeição de castigos e punições;
  • Educação voltada para a autorregulação e a empatia.

Mesmo escolas que não se definem como montessorianas incorporam, ainda que parcialmente, elementos de sua filosofia.

Montessori foi indicada diversas vezes ao Prêmio Nobel da Paz, reconhecida por sua defesa da liberdade e da dignidade infantil.

Mais de um século depois, sua mensagem ecoa em cada sala que respeita o ritmo da criança e em cada educador que enxerga o aluno como protagonista do próprio aprendizado.

Por que o legado de Montessori importa hoje

Em tempos em que a educação volta a ser pressionada por padrões de produtividade e controle, as ideias de Maria Montessori soam novamente urgentes.

Ela nos lembra que ensinar é um ato de amor e confiança, não de imposição. Que a verdadeira disciplina nasce do interior, e que a liberdade é o solo fértil da responsabilidade.

Cada ambiente montessoriano — como os da Meimei Escola — é, em essência, uma continuidade viva desse legado: um espaço onde a criança é respeitada, onde a curiosidade guia o aprendizado e onde a autonomia se cultiva com serenidade e propósito.

Montessori nos convida a olhar a infância não como algo a ser moldado, mas como algo a ser revelado.

Conclusão: a coragem que continua educando o mundo

Maria Montessori não foi apenas uma educadora; foi uma visionária que enfrentou instituições inteiras para defender o direito das crianças à liberdade e à dignidade.

Enfrentou preconceitos de gênero, censura política e perseguição ideológica — mas nunca abandonou seu propósito.

Hoje, cada sala montessoriana é uma prova de que a coragem de uma mulher pode transformar gerações inteiras.

Em cada criança que se levanta para escolher o que quer aprender, em cada professor que observa em vez de controlar, o espírito de Maria Montessori permanece vivo — ensinando, ainda, que educar é libertar.

Conheça a Meimei Escola, referência nacional em educação montessori

Desde 1977, a Meimei Escola é referência nacional em educação montessoriana, associada à Association Montessori Internationale (AMI) e à Organização Montessori do Brasil (OMB).

Com base nos princípios originais de Maria Montessori, a Meimei cultiva um ambiente preparado para a autonomia, a curiosidade e o pensamento crítico — formando crianças confiantes, criativas e livres para aprender por si mesmas.

Quer conhecer de perto uma autentica escola montessoriana? Agende uma visita e venha nos conhecer!

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